Luanda - O Bureau Político do MPLA, partido no poder em Angola, exortou hoje os angolanos a imbuírem-se do espírito de reconciliação e perdão ao próximo, depois do perdão apresentado pelo Governo pelos conflitos políticos do país.
Fonte: Lusa
Numa nota distribuída à imprensa, o secretariado do Bureau Político do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) saudou o discurso, quarta-feira, do Presidente angolano, João Lourenço, assumindo "uma verdadeira postura de estadista", pelos acontecimentos que "enlutaram o país aos 27 de maio de 1977".
"O secretariado do Bureau Político apreciou com enorme satisfação o pedido público de desculpas e de perdão por parte do chefe de Estado, refletindo o sincero arrependimento e vontade de pôr fim à angústia que ao longo de mais de 44 anos muitas famílias angolanas carregam consigo", refere o comunicado.
No documento, o partido reconhece que a construção de uma nação reconciliada "precisa de gestos genuínos, não só os carregados de simbolismos, mas também de atos como o iniciado hoje, 27 de maio de 2021, com a entrega das primeiras certidões de óbito aos familiares das vítimas do conflito do 27 de maio de 1977".
O partido recorda que a ação de reconciliação entre angolanos é resposta a um compromisso eleitoral feito pelo então candidato a Presidente da República.
"Após a sua escolha pelo povo angolano, o camarada Presidente João Lourenço criou por despacho presidencial de 16 de maio de 2019, a Comissão para a Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos desde a nossa independência nacional e que tem vindo a trabalhar num ambiente de harmonia com os representantes dos partidos políticos com assento parlamentar, com membros de organizações da sociedade civil e familiares das vítimas", lê-se no comunicado.
O secretariado do Bureau Político congratulou-se ainda por o chefe de Estado ter feito um pedido público de desculpas e de perdão abrangente, inclusive por cidadãos mortos nas fogueiras da Jamba, dos passageiros do comboio do Zenza do Itombe, dos mártires das cidades do Cuíto, província do Bié, e do Huambo, "gesto que conduz à reconciliação genuína entre angolanos, independentemente das cores partidárias".
"Em apoio ao discurso do camarada Presidente João Lourenço, o secretariado do Bureau Político exorta todos os militantes, simpatizantes e amigos do MPLA a imbuírem-se deste espírito de reconciliação e de perdão ao próximo, no intuito de consagramos todo o nosso saber e energias a favor do desenvolvimento económico e social, da prosperidade e do bem-estar de todos os angolanos", salienta a nota.
O Governo angolano entregou hoje os três primeiros certificados de óbito a familiares de vítimas do conflito político entre 11 de novembro de 1975 e 04 de abril de 2002, num ato que marca o perdão e a reconciliação.
Em 27 de maio de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado, numa operação aparentemente liderada por Nito Alves -- então ex-ministro do Interior desde a independência (11 de novembro de 1975) até outubro de 1976 --, foi violentamente reprimida pelo regime de Agostinho Neto.
Seis dias antes, em 21 de maio, o MPLA expulsara Nito Alves do partido, o que levou o antigo ministro e vários apoiantes a invadirem a prisão de Luanda para libertar outros simpatizantes, assumindo paralelamente, o controlo da estação da rádio nacional, ficando conhecido como "fraccionistas".
As tropas leais a Agostinho Neto, com apoio de militares cubanos, acabaram por estabelecer a ordem e prenderem os revoltosos, seguindo-se, depois o que ficou conhecido como "purga", com a eliminação das fações, tendo sido mortas cerca de 30 mil pessoas, na maior parte sem qualquer ligação a Nito Alves, tal como afirma a Amnistia Internacional em vários relatórios sobre o assunto.
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