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quinta-feira, 6 de maio de 2021

Angola: O caso IURD - Hilaria Vianeke

Luanda - Já dizia Karl Marx que a religião é o ópio do povo. Onde há desgraças, fome, desespero, aflição, existe a necessidade de consolo e ajuda para mitigar estas dores. E, em países como o nosso, onde grassa este manancial de problemas, o povo, as pessoas, o ser humano encontra tudo isto na igreja, na religião, na palavra do padre, do pastor ou do imã no caso dos islamistas. Naturalmente que o nosso povo é, igualmente e naturalmente, atreito à espiritualidade, o que acaba por facilitar esta via de mitigação das dores.

Fonte: Club-k.net

A religião, que do latim é culto, prática religiosa, obediência à lei divina, santidade, está presente no nosso país em grande medida através do cristianismo. Dados recentes do wikipedia indicam que cerca de 79% da população angolana professa o cristianismo e desta porcentagem 49% o catolicismo e a restante é protestante ou evangélica. Esta fé, esta crença em Deus, em Allah, em Buda, em Jeová, não é má, em si mesma, e até por vezes é a única forma que se encontra para poder continuar o nosso caminho nesta vida cheia de turbulências. O que é mau é aproveitar-se das desgraças, da ignorância, da miséria, da boa vontade e fé do povo para através do mau uso da palavra divina ou por via do poder político, respectivamente, enriquecer lideranças ou comprometer massas a certo poder. E, assim, regista-se um ponto de contágio na conivência das instituições públicas que pouco ou nada fazem para resolver o sofrimento que empurra o povo a buscar refúgio nestas seitas sem controlar o verdadeiro objetivo das mesmas.

 

Das 81 igrejas ou seitas reconhecidas no nosso país e das mais de 1.100 que realizam cultos ilegalmente, segundo dados da Human Rights watch (HRW) de 2019, quantas destas são efectivamente seguidas para que realmente se conheça as suas práticas ou se o seu “modus operandi” se coaduna com os postulados legais? A única preocupação é que haja um registo administrativo que permita dominar as suas lideranças, como comprova a reunião que o Ministério da Cultura convocou, em ofício 471/21, para o pretérito dia 5 de Maio, com os líderes religiosos para, entre outros, discutir “A parceria entre o Executivo e as Igrejas, o Reforço da aproximação institucional e uma Breve informação sobre o processo de reconhecimento de confissões religiosas”, este último ponto, instrumento decisivo para adestrar as igrejas ao gosto do Executivo. O Executivo pretende assim formatar as igrejas às suas conveniências eleitoralistas, ao invês do culto religioso decorrer apenas da convicção individual de cada ente – incluindo os detentores de poder político – competindo ao Estado declarar meramente a liberdade religiosa e de culto e agir sobre os aspectos criminais que contendem com as Leis da República.

 

Levamos todos as mãos à cabeça quando se começaram a destapar os negócios, intrigas, desvios de capitais, entre outros males na IURD (Igreja Universal do Reino de Deus). Até o momento, ninguém questionou de onde é que saíam os milhões para a construção de vários templos espalhados por quase todo o país, ninguém questionou a saída do país de milhões as contas dos líderes desta seita no Brasil. Porque é que se permitiu este abuso, este desfalque, essa humilhação, a fé deste segmento da população. Não se pode confundir liberdade de culto e de crença, com a liberdade de roubo e de abuso aos mais vulneráveis, como se a sorte dos cidadãos não importasse aos seus governantes. E aqui também é claro que associado ao interesse de manutenção de poder, o Estado negócio, privatizado pelos seus detentores, terá não só despendido do erário público, como igualmente se locupetado das transações.


Bem entendido, tais práticas fogem à definição de Emile Durkheim, que postula que “ a religião é um sistema solidário de crenças e práticas relativas a coisas sagradas, crenças e práticas que unem em uma mesma comunidade moral, chamada igreja”.

 

Ë bem, verdade que assim como a IURD, boa parte das seitas, não podem ser chamadas de igreja, não têm isto que Durkheim chamou de moral, porque mentem, roubam, aproveitam-se de momentos de tristeza e profundo desespero das pessoas para arrancarem delas tudo: a casa, o dinheiro... e sobretudo a dignidade. Eu pergunto a todos esses, qual é a diferença entre vocês e os fariseus ou os sumos sacerdotes do templo? Aqueles que entregaram Jesus aos romanos para que fosse crucificado. Por isto, os chamou de hipócritas, que é o que eram e o que vocês são.

 

Vocês, roubam como eles, mentem, usam o nome de Deus para benefício próprio em lugar de fazer o que queria Jesus. Que é que fóssemos pescadores de homens, que transmitíssemos o amor e que vivêssemos como ele viveu, com humildade e ajudando sem esperar nada em contrapartida. Deixando-nos como exemplo, oferecimento gratuito dos seus dons e dando a sua própria vida pela nossa salvação.

 

São inúmeras as histórias de frustração ouvidas da IURD, muitos perderam absolutamente tudo. Ao contrário dos pastores e bispos que a cada dia, se tornavam, mais ricos e milionários. Onde é que esteve o nosso governo? Depois desta experiência quais são as medidas tomadas em relação as outras seitas que usam o mesmo modus operandi? Quem protege os interesses destes fiéis enganados diariamente por falsos profetas? Os pastores da IURD devolveram algo do roubado ao povo? Ao Estado? Pagavam algum tipo de impostos? Por que é que se permitia e por onde saía todo o dinheiro levado ao Brasil através da IURD?


A modo de conclusão, dizer que as respostas estruturais a questão da proliferação das igrejas ou seitas, passam pelo mesmo caminho de sempre, a educação da população, o emprego, a implementação de um Estado de bem-estar social, o control e fiscalização dos templos e casas de cultos, evitando que da noite para o dia apareçam seitas e que estas tenham, mais adeptos que as escolas, os centros de trabalho ou lugares de ócio e cultura.

 



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