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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Radicalização islâmica e o terrorismo em cabo delgado, uma lição a segurança nacional angolana - Tiago Quissua

Luanda - Cabo Delgado é uma província moçambicana com uma superfície total de 82.625 Km2, faz fronteira a norte coma a República da Tanzânia. Possui 17 distritos e 2333278 habitantes (censo 2017).

Fonte: Club-k.net

Desde 5 de Outubro de 2017 que a região norte de Moçambique, concretamente a província de Cabo Delgado tem sido vítima de ataques frequentes de grupos armados que em princípio o governo moçambicano tinha inúmeras dificuldades de identificá-los, porquê não sabia distinguir se eram ataques de grupos terroristas ou ataques desencadeados por alguns dissidentes da RENAMO (Resistência Nacional de Moçambique). De la para cá os ataques continuaram e está mais do que provado que são desencadeados por grupos terroristas radicais de inspiração islâmica.


A radicalização islâmica e o extremismo violento


A radicalização na perspectiva de Harris-Hoga, é o processo através do qual alguns indivíduos desenvolvem, adoptam e abraçam atitudes políticas e comportamentos que divergem substancialmente de uma parte ou da totalidade de valores estabelecidos e legitimados do ponto de vista social, político, económico e até mesmo religioso.


No caso de Moçambique, o radicalismo islâmico começa com esse afastamento as tradições ou aos valores instituídos numa dimensão religiosa. E de acordo com os estudos realizados em 2019 pelo Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique (IESE- CADERNOS No17), inicialmente o grupo surge como um grupo religioso e em finais de 2015, passou a incorporar células militar.


Actualmente o grupo é designado alshabaab que em português, traduz-se «juventude árabe», mas inicialmente, o grupo era conhecido pela designação Ahlu Sunnah Wal-Jamâa «adeptos da tradição profética e da congregação».


Na óptica destes grupos, as comunidades de Mocímboa da Praia praticavam um islão degradado e o que se passou a constatar frequentemente é o conflito entre tais grupos e as lideranças religiosas locais, os radicas foram expulsos e passaram a rezar fora das mesquitas, em edifícios abandonados e inacabados. Para diferenciarem-se dos muçulmanos infiéis ou praticantes do islão degradado, os elementos passaram a presentar-se de cabeça rapada, vestidos de batas brancas, bermudas e carregavam consigo armas brancas (facas).

Diante deste processo de radicalização islâmica e conflitos, o governo local manteve-se indiferente, ou seja, considerou como um problema interno das mesquitas.


A liderança dos grupos era constituída por actores nacionais e estrangeiros com ligações fortes na Tanzânia, Arabia Saudita e eram adeptos do wabismo e do salafismo (movimentos ortodoxos e ultraconservadores dentro do sunismo, vistos como extremistas e fundamentalistas) cuja missão é aplicação da Xaria (lei islâmica) na região por via da jihade.


Em relação ao financiamento, os grupos eram financiados por via de práticas económicas ilícitas (exploração de madeiras), doações de pequenos comerciantes que actuavam no sector informal (pesca e transporte).


O recrutamento acontecia nos laços de casamentos, nas redes informais de amigos e fazia-se recurso a internet (facebook, WhatsApp) para veicular mensagens de clérigos muçulmanos tidos como radicais e fundamentalistas, no caso do Cabo Delgado difundia-se as mensagens do queniano Aboud Rogo Mohammed. Maior parte dos integrantes, eram jovens dos distritos costeiros das províncias de Cabo Delgado e Nampula que integravam com promessas de emprego, valores monetários e ate mesmo bolsas de estudo.


São várias as motivações da radicalização e da adesão a grupos terroristas, variando de contexto para contexto, no caso de Cabo Delgado alguns estudos apontam para:

 Condições Sociais
 Pobreza extrema
 Questões étnicas (os Mwanis sentem-se excluídos em relação aos Makondes
em termos de distribuição de recursos e cargos públicos).


Lições que se deve tirar

i. Os desafios impostos a segurança nacional devem ser vistos e avaliados em termos de riscos e ameaças de forma pragmática ou seja não podem ser encaradas de ânimo leve, quer as ameaças no sentido clássico (guerra) ou as novas ameaças (conflitos étnicos o fundamentalismo religioso, tráfico de armas ligeiras).


ii. A pobreza extrema e a fraqueza das instituições moçambicanas favoreceram a radicalização islâmica e surgimento de grupos terroristas na zona norte do país, colocando em causa a segurança nacional moçambicana.


iii. O recurso por parte do Estado moçambicano a empresas de segurança privada norte- americanas, russas e sul-africanas, para proteger aquela zona rica em recursos

minerais e vista por muitos como o epicentro da indústria exractiva, demostra a
ineficácia e ineficiência dos seus órgãos de defesa e segurança.


iv. O sucesso do combate e prevenção ao terrorismo na maior parte dos Estados
africanos, passa pelo reforço da cooperação entre os Estados, pela eficácia e eficiência das forças militares e dos serviços de inteligência na abordagem das ameaças, pela assistência social as populações locais, pela concepção de políticas públicas assertivas, inclusivas.

 

 



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