Lisboa - A juventude angolana acredita que merece uma vida melhor. Por esta razão, o discurso político terá de se adaptar e actualizar, concedendo soluções concretas para os problemas actuais, sob pena de a contestação aumentar.
Fonte: JE
Aos 11 de Novembro de 1975, após a celebração dos Acordos de Alvor, Angola, até então colónia portuguesa, declarou a sua independência. A busca pela emancipação política teve, na sua base, a reivindicação pelo princípio da autodeterminação dos povos, no que tange à exploração dos recursos naturais, em benefício daqueles que eram marginalizados pela doutrina vigente.
A subjugação da colónia reflectia-se em dois aspectos principais. Por um lado, na dimensão económica, a riqueza criada em território africano beneficiava, maioritariamente, a elite da Metrópole e enquadrava-se numa organização política deveras distanciada dos seus destinatários. Por outro lado, na componente social, a concentração da renda num grupo restrito, as leis segregacionistas e a exclusão na participação política por parte da população indígena conduziram à marginalização tribal, o que conferiu absoluta legitimidade aos movimentos de libertação nacional.
Quarenta e cinco anos após à implementação da República de Angola, é oportuno realizar um balanço, destacando, sobretudo, a perspectiva económica e social. Seguindo a teoria de Kondatriev, o autor russo sugere que as análises económicas sejam feitas em períodos mínimos de 40 a 50 anos. Neste sentido, os dados económicos de Angola demonstram que entre 1975 e 2015 o Produto Interno Bruto cresceu a uma taxa média de 11%, passando de 4,14 mil milhões de dólares para 146 mil milhões de dólares. De reparar que, para o mesmo período, a nação africana passou de uma população de 7,5 milhões para 28 milhões de habitantes.
A pacificação de Luena aos 4 de Abril de 2002, em conjunto com a definição e aplicação de políticas estruturantes, permitiu que entre aquela data e 2012 a dimensão da economia angolana crescesse, a taxa média de 15,1% entre 2002 e 2008, passando a pertencer às nações de rendimento médio, com base nos critérios do Banco Mundial.
Entre 2013 e 2020, de acordo com os dados do Fundo Monetário Internacional, Angola iniciou um ciclo de desaceleração e contracção, com uma taxa de crescimento média de 2% entre 2012 e 2015 e uma contracção média de 10%, entre 2016 e 2020, que conduziram o valor total de 116 mil milhões em 2015 para 62,724 mil milhões de dólares em 2020.
É um facto que a distribuição da riqueza, de momento, não se estende à maioria da população, contrariando, assim, boa parte das expectativas e anseios da população angolana. No entanto, a independência de Angola garantiu que a riqueza chegasse a um conjunto mais alargado de autóctones, sendo, portanto, expectável e também desejável que a margem de dispersão dos benefícios económicos, gerados internamente, aumente, sobretudo, na medida em que se observar a alternância política. Por isso, actualmente, uma franja da sociedade angolana, principalmente a juventude angolana, mostra um elevado grau de insatisfação política.
Estamos, assim, em presença de um tempo movido pela incerteza política e económica quanto ao futuro de Angola, que na sigla inglesa se resume ao acrónimo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity), o que nos reserva, assim, desafios de Sísifo[1], sobretudo, para uma geração que não tem viva a memória da independência e do conflito armado, salvo por intermédio dos escritos disponíveis. Esta geração acredita que merece uma vida melhor. Por esta razão, com esta franja da população o discurso político terá de se adaptar e actualizar, concedendo soluções concretas para os problemas actuais, sob pena de os níveis de contestação aumentarem e colocarem em causa futuros investimentos na economia angolana.
*Ivan Negro N’jinga, Economista e Sérgio Dundão, Investigador
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