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segunda-feira, 3 de maio de 2021

Se a teoria de Cheikh Anta Diop vencer - Lazarino Poulson

Luanda - Ckeikh Anta Diop (29/12/1923- 07/02/1986) foi um renomado historiador na área de antropologia que nasceu em Diourbel no Senegal. Certamente é o maior cientista africano e um dos maiores a nível mundial de sempre.

Fonte: Club-k.net

Apesar da distinta faceta de historiador, que o tornou célebre em todo mundo, Diop também se dedicou à física e foi emprestado “acidentalmente” à política.


Mas é no campo da antropologia que Diop contribuiu para a história da humanidade, defendendo tenazmente a sua inovadora “ teoria da origem negra da cultura egípcia”.

 

Entretanto, tudo começa em 1951, quando Diop apresenta pela primeira vez, na Universidade de Paris, a sua tese de doutoramento, onde defendia de forma sustentada que o “ Egipto Antigo” havia sido uma cultura negra. Atónitos, os catedráticos franceses não só a rejeitaram como a classificaram de pseudo-ciência.


Diop, um obstinado investigador, não se deixou intimidar pela ilustre cátedra e dedicou -se, na década seguinte, a uma intensa investigação, resultando numa tese mais robusta, defendida com êxito em 1960.


Entretanto, antes mesmo de a defender, de novo, formalmente num meio académico, Diop, num gesto de invulgar intrepidez, publicou a sua teoria inusitada em 1956 na obra “ Nations nègres et culture” ( Nações negras e culturas).

 

Contudo, a teoria de negritude da civilização egípcia “ de Diop não teve “ ainda” o alcance desejável, sobretudo no continente africano.

 

Mas aqui chegados questiona -se: quais as consequências para humanidade se a teoria da “negritude egípcia “ vencer ?

 

Para responder a esta vexata question vamos utilizar três critérios, a saber: histórico, contemporâneo e dos anos vindouros ( futuro).

 

Do ponto de vista histórico, se a teoria da negritude egípcia vencer, será “um soco no estômago” dos historiadores eurocêntricos.


Como é sabido, na “ história da humanidade”, o eurocentrismo domina a narrativa desde a época dos Descobrimentos. Porém, vale a pena destacar que esta narrativa pretensamente universalista está coberta de mitos e falsidades que não são aceites no médio oriente, nem, sobretudo, nos países asiáticos.


Em boa verdade, desde a idade média e, mais acentuadamente, a partir do século XIV até ao século XX, a história da humanidade narrada pelos eurocentristas encontrou maior e melhor recepção no próprio ocidente ( Fundamentalmente na Europa e nos Estados Unidos da América) e em África ( por imposição colonial e neocolonial). Mesmo na América Central e Latina sempre encontrou grande resistência por parte dos historiadores nativos e da população no geral.


Nesta senda, a construção teórica de Diop destrona o mito colonial e neocolonial do negro atrasado, face ao homem branco ( sobretudo caucasiano) descortinando, deste modo, a homogeneidade da raça humana.


Diop na sua teoria da negritude egípcia repõem a verdade histórica que coloca os africanos numa soberana oportunidade de refazer a história e retirar importantes lições para sua identidade.

Já na perspectiva contemporânea, vale a pena testar a teoria da negritude egípcia aos desafios actuais do continente, sobretudo no que tange a sua identidade cultural e independência.

Hoje por hoje o que interessa saber se houve Farós negros ?

Interessa e muito para variadisismos aspectos actuais: em primeiro lugar, a consciência que na humanidade “não há raças superiores” - é o ponto de partida para qualquer luta por igualdade; em segundo lugar, fixar a ideia de que o atraso tecnológico, científico, económico, social, financeira não é uma fatalidade - se ontem o homem negro dominou a técnica no egipto ( quando era a civilização mais avançada do mundo), ou até mesmo no Sudão Antigo ( das civilizações mais antigas do mundo ), pode voltar a dominar a técnica e a ciência que lhe permitirá desenvolver a economia e a sociedade em pé de igualdade com os países mais desenvolvidos ( tal como está a fazer a China ).


Em terceiro lugar, a identidade religiosa e espiritual é extremamente importante para a emancipação do homem negro africano. Nesta vertente, importa destacar dois movimentos: o panafricanista e o Ubuntu.


O panafricanismo, embora sendo um conceito que nos transporta para uma ideia de unidade entre os africanos e afrodescendentes , não deve ser visto como “um conceito de unanimidade “, pois é antes uma visão de solidariedade das diversas culturas e espiritualidades africanas face às análogas impostas pelos outros povos.
Nesta conformidade está o panafricanismo defendido por Willian Eduard Burghardt Du Bois, Marcus Mosaih Garvey nos seu dealbar, ampliado por Kwame Nkrumah ou por Abdias Nascimento e mais recentemente, entres nós, advogado de forma enérgica por Isidro Fortunato e a sua teoria de “descontrução” dos vários sistemas( socialismo, capitalismo, democracia, cristianismo, o islamismo etc ) impostos na mente dos africanos pelo ocidente ( colonialismo e neocolonialismo). Segundo este excelsior pensador angolano, “ a Bíblia é um instrumento de escravidão” que tem como suporte a mitologia de vários povos, sobretudo egípcio”!


Isidro Fortunato, indubitavelmente o mais destacado panafricanista angolano da actualidade, vai mais longe e defende que “ em África o que deve prevalecer é a espiritualidade que existia antes da chegadas dos europeus”.


O Ubuntu, por sua vez, exprime a ideia de renascença africana, na África do Sul ou de uma forma de resistência a opressão do negro no Zimbábue,. O Ubuntu está presente da filosofia de John Mbiti e nas motivações de Nelson Mandela na sua luta contra o Apartheid. Mas é Desmond Tutu,o conhecido arcebispo anglicano sul africano, com a sua teologia Ubuntu que sintetizada da melhor forma a ideia deste conceito, afirmando de forma lapidar que “ a minha humanidade está inextricavelmente ligado à sua humanidade”.


No fundo, Ubuntu exprime a “ noção de fraternidade implica compaixão e abertura de espírito e se opõe ao narcisismo e ao individualismo “.

Todavia, olhando para o nosso quotidiano, não são apenas as histórias das lutas de libertação dos países africanos que importam - criou-se recentemente uma “ Comissões para elaboração da historia da luta de libertação dos PALOP’s.


Na verdade, o que África precisa no geral, e Angola, em particular, é de uma verdadeira revolução cultural, um amplo e profundo processo de resgate da sua antropologia para definirmos a identidade dos nossos povos.


A nossa independência, o nosso bem estar e o futuro harmonioso do País e da África no Geral depende deste factor primordial.


Na perspectiva dos anos vindouros ( futuro), a teoria da negritude egípcia de Diop deve ser encarada como fio condutor para emancipação da raça humana. Neste momento, o continente africano é o mais atraso do mundo ( mesmo em comparação com os países mais pobres da americana central e latina, Ásia e pacífico).


A teoria da negritude egípcia coloca a África fora de uma distopia e de uma idílica utopia. Neste prisma, a África é encarada como uma possível realidade paradisíaca para os seus habitantes. Para o efeito, as lideranças dos seus povos devem procederem a um conjunto de acções muitas delas feitas pelos egípcios antigos - independência nos vários sectores da actividade humana, tais como o cultural ( sobretudo espiritual e religiosa), económica, financeira, científica e tecnológica.


Se dúvidas persistirem, leiam com atenção a história do Egipto Antigo, na perspectiva africana de Cheikh Anta Diop.


Como se vê, ainda é preciso “descolonizar” a mente de muitas lideranças africanas.

Se a teoria de Diop vencer, a África liberta -se-á por completo do eurocentrismo e será um continente próspero, tal como está a acontecer com a Ásia ( que fez a sua revolução cultural, destacando a China, Coreia do Sul e Japão ).

Estou certo que não serão precisos adornos de ouro no seu túmulo ou pirâmides e esfinge como a de Gizé para o imortalizarmos. Se a teoria da negritude egípcia vencer será a justa homenagem que a humanidade fará ao “ Último Faraó “ - Titulo póstumo atribuído por um jornal a Cheikh Anta Diop em gesto de elogio fúnebre.

 



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