Luanda - Enquanto tracejava as linhas deste singelo script sobre Raul Danda in memoriam, invadiu-me o rosto uma vaga de lágrimas, que perante a cumplicidade de um surto nostálgico conduziram-me a uma incessante incredulidade. A notícia sobre o prematuro desaparecimento físico de Raul Danda caiu-me como um choque térmico.
Fonte: Club-k.net
Conheci Raul Danda, pessoalmente, há década e meia, algures na Vila Alice, por intermédio de uma amiga de longa data, actualmente, apresentadora do Jornal da TV Zimbo, por ocasião da celebração do seu aniversário. Confesso que fiquei surpreendido com a sua simplicidade e pelo ambiente amistoso que se instalara após termos sido apresentados um ao outro pela nossa amiga, sua colega de trabalho na altura. Fomos os dois primeiros convivas a chegar ao local e juntos falamos de tudo um pouco, marcando o início de um laço de amizade.
Em 2018, voltamos a interagir discreta, mas intensamente, ao calharmos na mesma turma da 2ª edição do curso de mestrado de Ciência Política e Administração Pública, promovido pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto.
Foram dois anos de carteira, e foi aí que conheci um estudante polido e notável. Raul Danda destacava-se nas cadeiras mais complexas. Quando o respeitável Professor Doutor Paulo de Carvalho realizasse provas de avaliação, todos nós perdiamos o sono, mas Raul Danda era dos poucos que descorria sobre elas com um sorriso no rosto. Não me esqueço destes bons momentos de carteira.
O Dr. Raul, como carinhosamente nos tratávamos na turma, foi um camarada, conversador, comedido, atento, sociável e com fortes convicções nos seus pontos de vista. Era quase impossível privar por 30 minutos com Raul Danda sem ouvir um adagio no seu dialeto (fiote). Disso sentiremos saudades.
Na classe, despia-se das suas vestes de político e deputado. Era o colega Raul Danda, firme, sério, satírico e ao mesmo tempo afável. Lembro-me, certa vez, sentados no jardim da Univesidade aguardando pela chamada para a prova, fomos debitando algumas reflexões em torno da prova, a que eu me manifestava preocupado face a rigidez do tempo cronometrado para a mesma, e ele na sua serenidade, garantiu-me que dos 30 minutos programados só precisava de 10 para fazer a prova. Isso deixou-me com muitas dúvidas, não é que o malogrado cumpriu. Risos.
Não era para ser assim amigo, tinhas muito para dar pelo teu país. Esperava ver-te defender a tua dissertação de mestrado e recebermos os diplomas juntos em uma cerimónia pomposa. Resta-me deixar aqui os meus sentimentos de pesar a família enlutada, em meu nome pessoal e da minha família. Que a sua alma descance em paz na glória do Senhor.
Adeus amigo e colega.
Jurista
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