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terça-feira, 4 de maio de 2021

Litígio leva Lourenço e “Nandó” a perderem fazenda

Lisboa – Um ano antes de chegar ao poder, o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço perdeu o negócio para exploração de uma fazenda, na província de Malanje, na qual perspectivava avançar com um projecto de desenvolvimento agrícola.

Fonte: Club-k.net

“OFERECIDA” PELO DELEGADO DA AGRICULTURA 

O conflito data de 2008, altura em que João Lourenço exercia as funções de Vice-Presidente da Assembleia Nacional, tendo como superior hierárquico, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”. Ambos haviam solicitado um terreno anexado a uma fazenda de 5, 200 hectares, localizada, no município de Calandua, comunica de Cateto Cangola, na província de Malanje.

 

De forma a agrada-los, o então delegado da agricultura em Malanje, João Manuel garantiu que o terreno, anexado a fazenda denominada “Mazaza”, estava abandonado e que não havia problemas em ceder a favor dos dois altos responsáveis da Assembleia Nacional. O processo de concessão, segundo apurou o Club-k,  acabou por desencadear em litígio,  uma vez que, o terreno encontrava-se ocupado ilegalmente, por uma terceira parte,  que também não era o verdadeiro dono.

 

Durante o processo de concessão da fazenda em causa, o delegado da agricultura, João Manuel aplicou-se arduamente para que aquela parcela de terra passasse para a tutela de “Nandó” e Lourenço, tendo em Junho de 2008, solicitado parecer ao então diretor do gabinete de aproveitamento e desenvolvimento Agropecuário do Planalto de Camabatela (GADA - PEC), Marcos Luís Mateus.

 

Em correspondência datada de 7 de Junho de 2008, o diretor do GADA – PEC, respondeu ao seu colega da agricultura que com base na lei de terras de então, “a direção deste gabinete, não vê nenhum inconveniente de que o Sr João Manuel Gonçalves Lourenço, legalize a sua parcela de terra, para exercer atividades agropecuárias na ex-fazenda denominada Mazaza, cita no município de Calandua, Comuna de Cateco Cangola, Aldeia de Cabaça Muhongo, província de Malanje”.

 

Em Março de 2009, numa démarche para acelerar o processo da aquisição da fazenda, o delegado da agricultura deslocou-se pessoalmente a Aldeia de Cabaça Muhongo, onde fica a fazenda abandonada, para ouvir os sobas e as autoridades locais, para certificar mais uma vez que de facto o terreno não tinha mesmo dono. Para além dos sobas, o delegado provincial ouviu também, no dia 7 de Março, as autoridades locais, na pessoa do então administrador do Kateco Kangola, e de um responsável do Instituto Geográfico e Cadastral de Angola, André da Rosa, assim como o chefe da sessão de desenvolvimento rural, Francisco Dala.

 

Na sequencia deste trabalho de auscultação, foi produzido aos 17 de Março, um relatório - que o Club-K teve acesso -  em que se concluiu que a área solicitada por João Manuel Gonçalves Lourenço e Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” encontrava-se ocupada por concepcionários mas que os “prazos dos referidos títulos encontravam-se expirados pois datam há mais de 7 anos”, pelo que se recomendou a convocação dos ocupantes da fazenda para lhes dar a conhecer da ilegalidade em que se encontravam.

 

Tempos depois os verdadeiros proprietários da referida fazenda  apareceram observando um “braço de ferro”,  com  o delegado da agricultura de Malanje – a favor de Lourenço e “Nandó” - que terminou  em 2016, já com João Lourenço, como ministro da Defesa Nacional e candidato presidencial pelo MPLA.

 

As portas do ano eleitoral, João Lourenço, não terá mostrado residência em lutar pelo bem alheio, porém, o prolongamento do desnecessário “braço de ferro” entre as partes, em litigio, continua a ser atribuído ao então delgado provincial da agricultura que fazia gosto que a fazenda “Muzaza” – inicialmente descrita como abandonada - ficasse mesmo com os dois altos responsáveis do Estado angolano.

 

AGRICULTURA UMA ANTIGA PAIXÃO DE JL

 

Lourenço é reconhecido no seu circulo de familiar e de amigos como um “grande apaixonado” pela atividade agropecuária sendo o negócio que sempre investiu quando andou politicamente no deserto e os seus colegas do regime dedicavam-se na exploração de diamantes e petróleos.

 

O seu maior investimento privado (constituído por sete fazendas) é uma fazenda na Kibala, província do Kwanza-Sul, batizada por “Fazenda Matogrosso”, que fora adquira pelas mãos do um grupo empresarial, MetroEuropa, ligado ao ex-governador do Cuanza-Sul, general Francisco Higino Lopes Carneiro.


Consta ainda do seu vasto patrimônio outras três fazendas que estão distribuídas e em nome das suas filhas (Cristina Geovane, Jéssica Lorena e Ana Isabel Lourenço) na mesma província angolana. Tem igualmente uma quinta nos arredores de Kikukxi (em Luanda), que dedica-se na produção de ovos, no perímetro da fazenda “Peróla de Kikuxi”, pertencente a família de Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”. Há, poucos anos terá recebido de presente uma parcela de terra, na província da Huíla, pelas mãos do antigo governador, Luís Manuel da Fonseca Nunes.


A “Fazenda Matogrosso” é descrita como um dos empreendimentos mais sofisticados do patrimônio de João Lourenço, por nela acolher casas de laser construídas de madeira, um aeródromo, e por produzir enormes quantidades de milho e batatas que tem como clientes as forças armadas angolanas. Inicialmente, o gestor da fazenda era um cidadão brasileiro Márcio Fernandes, que seria depois substituído pelo empresário angolano José Carlos Manuel de Oliveira Cunha “Oca”, que na esfera do Estado, ocupa o cargo de membro do Conselho da República.

 

UNITA DESAFIA PUBLICAÇÃO DA DECLARAÇÃO DOS BENS

 

O patrimônio empresarial, João Manuel Gonçalves Lourenço tem sido uma dor de cabeça para o MPLA visto que o seu principal rival, Adalberto Costa Júnior, o tem desafiado a tornar publico a sua “declaração de bens”.


“Que sua excelência o Sr, Presidente da República, ao envolver-se numa campanha que publique a sua declaração de bens sem nenhum medo”, aconselhou no passado mês de Fevreiro o líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior falando a Rádio Eclésia, na qual lamentou as autoridades proíbem o desconhecimento dos conteúdos destes documentos.

 

Para Costa Júnior, o que deveria existir “é eu público quando assumo responsabilidades, e quando saio, para se verificar que os bens que temos estão em conformidade com os ganhos normais que nós auferimos. Como sabe, não conseguem justificar a começar com o primeiro responsável do país. Não fazem porque, não fazem o exercício da absoluta transparência”, disse o politico aguardando que o Presidente da República declare a sua declaração de bens.


Em Novembro do ano passado, num encontro com a juventude, o Presidente da República revelou que antes de exercer o cargo que ocupa exercia atividades latifundiárias do país, tendo adiantando que fez a sua declaração de bens que se encontra selada na Procuradoria Geral da República (PGR).



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