Lisboa - O Flávio Lemos Alencar publicou em seu perfil no Facebook uma história interessantíssima sobre Nicolau II – Rei do Congo. Histórias como essas não podem ser sepultadas no esquecimento.
Fonte: lemosalencar
Em 1842 se tornou Henrique II rei do Congo. Pertencia ao clã dos Água Rosada e era conhecido por ser um bom diplomata. Por muito tempo o rei do Congo havia sobrevivido graças ao tráfico de escravos, e seu poder político dependia do apoio dos fidalgos do reino e de chefes locais, além da boa relação com o rei de Portugal, representado pelo governador de Angola.
A capital do reino, São Salvador do Congo, por séculos havia sido a sede de um império cuja estabilidade variava grandemente, mas que, desde o século XV era cristão e também amigo dos portugueses. Diferentemente do padrão moderno das monarquias europeias, no Congo não era o filho mais velho do rei que assumia o trono após sua morte, mas um dos sobrinhos do rei era eleito durante um longo período de velação do corpo do rei defunto.
Logo após sua eleição, em 1843, o novo rei Henrique II enviou a Luanda seu filho dom Álvaro pedindo que um sacerdote o fosse coroar. O capítulo dos cônegos do Congo, instalado havia dois séculos em Luanda, encarregou o padre africano António Francisco das Necessidades do caso e este chegou a São Salvador em novembro de 1843.
Na ocasião da coroação, dom Henrique II entregou ao padre um manuscrito datado de 1.º de janeiro de 1782, contando a história do Congo cristão, para que ele o copiasse. Este texto foi publicado no Boletim Oficial de Angola. Mais tarde, o mesmo padre fez diversas viagens ao interior do Reino. Em 25 de março de 1845, redigiu um relatório sobre as suas atividades durante 15 meses: ministrara 106.064 batismos, ouvira 455 confissões e dera o hábito de cavaleiro da Ordem de Cristo a 70 fidalgos congoleses.
Em junho de 1845, o governador de Angola enviou, como seu embaixador a São Salvador, o capitão António Joaquim de Castro, que era portador de uma carta do governador, datada de 31 de maio, em que o rei era convidado a enviar para estudar em Lisboa o seu filho, dom Álvaro. O embaixador assinou com o rei d. Henrique II um acordo em cinco artigos.
Em virtude do tratado, o rei do Congo permitia aos portugueses fixarem-se nas terras do Ambriz e aí construir uma fortaleza. Da sua parte, os portugueses comprometiam-se a restaurar uma das igrejas da capital, a manter aí um missionário de boa conduta e um professor, e também viriam em ajuda do rei, se ele fosse atacado na sua capital. Dom Henrique II ficou satisfeito por os portugueses ocuparem Ambriz, uma vez que o titular de Ambriz era um rebelde que não pagava o tributo devido havia muitos anos. Ainda em 1845, o rei enviou um seu filho para estudar em Lisboa.
Não foi dom Álvaro, mas o irmão mais novo, dom Nicolau de Água Rosada de Sardónia. Assim é que chegamos a esta litogravura, que foi realizada em Lisboa por Pedro Augusto Guglielmi, em 1845, o mesmo ano em que o príncipe congolês chegou a Portugal.
Para continuar: dom Nicolau estudou em Coimbra durante um ano e depois, em 1847, regressou a Luanda para aí prosseguir os seus estudos. Dom Nicolau — que não poderia suceder seu pai — não regressou ao Congo, aceitando em 1850 um cargo de escrivão da Fazenda em Luanda, tendo sido transferido para o Ambriz em 1857.
A morte de dom Henrique II em 23 de janeiro de 1857 marcou um ponto de viragem na vida política e econômica do Congo. Em 1840, haviam aparecido na costa navios anti-escravatura, ameaçando a principal fonte de financiamento dos reis do Congo. Nesse momento, dom Nicolau entrou no debate público como um grande defensor da independência do reino do Congo, sempre ameaçado pela interpretação de alguns juristas portugueses segundo a qual o rei do Congo seria vassalo do rei de Portugal.
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