Lisboa - O dia 26 de Maio de 2021 marca o funeral de Angola livre e independente. Enquanto a urna descia à coVa funda, os angolanos patriotas arrearam a bandeira da liberdade que içaram nos seus corações. Hoje o Chefe de Estado, disse isto sobre o golpe de estado militar de 27 de Maio de 1977: “Nessa altura, ninguém imaginava que as divisões internas dos movimentos de libertação seriam transportadas para o interior do país no período pós-Independência e com consequências tão trágicas que deixaram feridas profundas nos corações dos angolanos.”
Fonte: AQ
O movimento de libertação com o qual me identifico, desde os 17 anos, é o MPLA. “Nessa altura” só mulheres e homens excepcionais tinham coragem para aderir a uma organização política que decidiu seguir a via da luta armada, para conquistar a Independência Nacional. A máquina repressiva colonial era desumana, violentíssima, omnipresente, assassina, exterminadora das angolanas e angolanos que ousavam desafiar o regime colonial-fascista. Todos os que aderiram à guerrilha nas várias frentes de combate eram seres humanos que respeitávamos, venerávamos e tentávamos ser dignos dos seus exemplos de abnegação, valentia e coragem.
O Presidente João Lourenço ao dizer que divisões internas no MPLA foram transportadas para o interior do país “com consequências trágicas” não pediu perdão aos golpistas de 27 de Maio de 1977. Decidiu, conscientemente, demitir-se de ser o presidente das angolanas e angolanos excepcionais que fizeram a luta armada de libertação nacional, nas fileiras do movimento de libertação.
João Lourenço também se demitiu de ser o presidente dos milhões de angolanos que em 1974 apoiaram, sem reservas, o MPLA. Já não é o presidente dos milhares de jovens que enfrentaram corajosamente as tropas invasoras a norte e sul de Angola. Desde hoje às 17 horas, deixou de ser o presidente de todos os militantes e simpatizantes do MPLA que conquistaram a Independência Nacional, a ferro e fogo. Provavelmente não lhe fazem falta. Mas um presidente que absolve golpistas assassinos e condena os dirigentes políticos e militares que o antecederam é uma inutilidade para os angolanos. Absolutamente inútil. O Presidente João Lourenço diz que em 27 de Maio de 1977 “um grupo de cidadãos organizados levou a cabo uma tentativa frustrada de golpe de Estado”. O Chefe de Estado transforma um golpe de estado militar no seu país numa “tentativa frustrada”. Colocou-se ao nível do falso historiador Carlos Pacheco, do Edgar Valles e da Francisca Van-Dúnem. Isso já era trágico.
Mas foi mais longe e assumiu publicamente ser o porta-voz desse lixo humano. O presidente de todos os angolanos não pode descer tão baixo. A partir de hoje demitiu-se do cargo para o qual foi deleito pelos militantes e simpatizantes do MPLA, para ser apenas a voz de um grupelho ressabiado, porque os seus familiares golpistas foram derrotados.
Sobre os Heróis Nacionais que enfrentaram os golpistas eM todo o país e os derrotaram, afirma o Presidente João Lourenço: “No intuito da reposição da ordem constitucional, a reacção das Autoridades de então foi desproporcional e levada ao extremo, tendo sido realizadas execuções sumárias de um número indeterminado de cidadãos angolanos, muitos deles inocentes.”
O Chefe de Estado não tem legitimidade para julgar os seus antecessores. Não foi eleito para consagrar os golpistas como vítimas e as vítimas como carrascos. Há um grande equívoco que é preciso esclarecer. Se o MPLA e o seu cabeça de lista queriam agir desta forma, tinham o dever de inscrever a operação no programa eleitoral do partido em 2017. Mas esconderam tudo!
Cobardia, maldade, manhosice rasteira. Imperdoável.
O Presidente João Lourenço diz que em 1977 existiram execuções sumárias. Uma boca, mera balela, atoarda, reprodução do discurso mentiroso dos golpistas que não foram executados e andam com o ministro da Justiça e do 27 de Maio, pela trela. O Chefe de Estado faltou gravemente ao respeito a quem naquele tempo dirigia Angola.
Desde logo, ao Presidente Agostinho Neto. Ao ministro da Justiça, Diógenes Boavida, ao ministro da Defesa, Iko Carreira, a Lúcio Lara, Pedro Maria Tonha “Pedalé, Manuel Pedro Pacavira, Maria Mambo Café, António dos Santos França “Ndalu”, Henrique da Carvalho “Onambwe”, Ludy Kissassunda e todos os restantes membros do Bureau Político do MPA. Cobardia. Porque a maior parte dos desonrados e desrespeitados já faleceram e nem se podem defender. Hoje, o Presidente João Lourenço decidiu ser mais um dos que lançam insultos e calúnias sobre os dirigentes do MPLA do tempo em que ele nem sequer era um projecto de político. Nem é um presidente de facção. Escolheu ser o pequeno chefe de uns tantos anões políticos.
No pedido de perdão que foi objectivamente o pedido de demissão de Presidente da República, João Lourenço faz uma lista dos golpistas transformados em heróis mas não incluiu o ministro do Trabalho, David Aires Machado “Minerva” que também pertencia à direcção política e militar do golpe de estado. Faltam alguns combatentes da I Região. Mas incluiu o Sabata! Este era quadrilheiro. Fazia assaltos à mão armada e em 1974, conseguimos mobilizar a sua quadrilha para enfrentar os esquadrões da morte. Após a Independência Nacional, Rui de Carvalho conseguiu enviá-lo para um Centro de Instrução Revolucionário (CIR) onde devia ser submetido a um banho de imersão ideológico. Não adiantou nada. Quando regressou, aderiu imediatamente aos golpistas. O Presidente da República de Angola acaba de lhe pedir perdão e humildemente desculpa. O depoimento manuscrito de Nito Alves tem um anexo onde ele afirma que José Van-Dúnem e Sita Valles deram as ordens para os comandantes do Estado-Maior General das FAPLA serem mortos.
Nito Alves é um herói reconhecido pelo Chefe de Estado. Então os mandantes do assassinato dos comandantes e outros cidadãos (José Van-Dúnem e Sita Valles) não só não merecem um pedido de desculpas como devem ser tratados como assassinos. O discurso do perdão ou demissão foi escrito em cima do joelho. Tomem nota, António Ferreira Neto é verdadeiramente Garcia Neto. Não tinha nada que se deixar matar pelos golpistas! Nada de desculpas nem pedido de perdão.
Leiam o pedido de demissão de João Lourenço: “Viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos no geral, pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas e o perdão, pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”(…) “Este pedido público de desculpas e de perdão não se resume a simples palavras, ele reflecte o nosso sincero arrependimento“ (…) “Estamos convencidos que com este gesto as almas das vítimas dos conflitos políticos terão a paz necessária para o repouso eterno”.
Esta parte também é grave. O Presidente João Lourenço fala em “restos mortais” e em almas. Angola é uma República laica. O Chefe de Estado não pode ter um discurso confessional, como se fosse um sacerdote que propaga a existência da vida para além da morte. Desceu tão baixo que nem sequer é chefe de igreja. Quando muito, é o sacristão de uma capelinha. Tudo isto é demasiado mau para ser verdade. O silêncio da direcção do MPLA é assustador.
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