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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Jornalista processado por ofensas a João Lourenço

Lisboa – O Director-Geral do semanário “O CRIME”, Mariano Brás,  revelou nesta  quinta-feira (25), ter sido chamado para responder junto do Serviço de Investigação Criminal (SIC) pelo alegado crime ‘ofensa à autoridade’ contra o Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço. Em causa,  está uma capa  publicada pelo seu jornal,  no ano passado em que o chefe de estado é apresentado como a pior figura de 2020.

Fonte: Club-k.net

Pelas redes sociais, Mariano Brás produziu a sua defesa na qual explica os critérios que levaram a sua publicação, a considerar que de entre varias personalidades, o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço não foi a melhor figura de 2020.

Factos que falam

No passado dia 12 de Fevereiro, fui mais uma vez notificado para comparecer ao Serviço de Investigação Criminal (SIC), concretamente na Direcção de Combate ao Crime Organizado, para ser ouvido em mais um processo-crime, desta feita. nº 01/020/-05.


Confesso que começo a me sentir perseguido e intimidado, psicologicamente, de tanto ir ao SIC. É que, ao longo de seis anos consecutivos, fui mais de uma vez em cada ano responder a processos, todos com dirigentes do MPLA como queixosos.


São ministros, chefes do Estado-Maior das FAA e agora, para enriquecer a lista, surge como suposto lesado o presidente do MPLA, igualmente Presidente da República de Angola, João Manuel Gonçalves Lourenço.


Jlo sentiu-se ofendido ao ver a última capa do ano transacto do jornal O Crime em que aparece como a pior figura de 2020. “Demagogo e hipócrita” foi a manchete.


Estou a ser acusado de ter cometido o crime de ‘ofensa à autoridade’. Recuso-me, categoricamente, a comentar, mas devo dizer que não vejo qualquer ofensa. Para início de conversa, é importante definir o que é demagogia. Segundo o dicionário de ‘Política e Cidadania’ ou de política, no seu 1.º volume da editora UNB, escrito pelos autores Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino, demagogia é “um termo de origem grega que significa "arte ou poder de conduzir o povo". É uma forma de actuação política na qual existe um claro interesse em manipular ou agradar a massa popular, incluindo promessas que, muito provavelmente, não serão realizadas, visando apenas a conquista do poder político”.


Por outro lado, acrescenta que “um discurso demagógico é, por exemplo, proferido numa campanha eleitoral com recurso a poderosas técnicas de oratória que irão sensibilizar e aliciar o eleitorado para dar o seu voto. Demagogo é a denominação dada aos indivíduos que praticam demagogia”.


Já no que concerne à hipocrisia, porém, diz ser “o acto de fingir ter crenças, virtudes, ideias e sentimentos que a pessoa na verdade não possui, frequentemente exigindo que os outros se comportem dentro de certos parâmetros de conduta moral que a própria pessoa extrapola ou deixa de adoptar”.


Na matéria em causa, um editorial, isto é, um texto de opinião que espelha a posição do colectivo, procedemos a uma avaliação das promessas que o PR fez no período da campanha eleitoral e na sua investidura. Três anos depois, na nossa visão, não foram cumpridas e, pelo contrário, a cada dia a vida do angolano piora.
Em 2017, ao assumir o poder, João Lourenço começou por prometer "um Presidente de todos os angolanos a trabalhar na melhoria das condições de vida e bem-estar de todo o nosso povo".


Assistimos, hoje, a um aumento de preços da cesta básica. Em 2017, o quilo de arroz estava 250 kz e actualmente está 525 kz; o quilo de fuba estava 200 kz, agora 500 kz; o litro de óleo estava 250 kz, agora 1.300 kz; o quilo de feijão passou de 300 kz para 1.200 kz; o quilo de açucar estava 250 kz e hoje custa 450 kz.

No que concerne à caixa de óleo, antes de João Lourenço, estava 3.000 kz, agora 15.600 kz; a caixa de massa passou de 1.700 kz para 4.800 kz. Mas não é tudo.
Segundo o Relatório de Pobreza para Angola em 2020, inquérito sobre despesas e receitas, elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a pobreza aumenta cinco vezes mais, isto é, cerca de 41%.


João Lourenço prometeu criar cerca de 500 mil postos de empregos, mas, três anos depois, não se vê nada. Pelo contrário, se recuarmos em Julho do ano passado, vemos que o Ministério do Trabalho avançou que o número de desempregados aumentou em 60% por cento.


Como podem ver, os factos dizem que a vida do angolano com JLO no leme piora drasticamente. Sinceramente, fiquei sem saber como se chama isto em política.
O Presidente prometeu também combater o nepotismo, chegando mesmo a escorraçar e a humilhar os filhos do seu antecessor; mas, na primeira oportunidade que teve, colocou a sua filha, Cristina Dias Lourenço, como administradora executiva da Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA), uma entidade de capitais públicos.


Lourenço prometeu, ainda, uma maior abertura aos órgãos de comunicação social e à liberdade de expressão, mas vemos que os órgãos públicos continuam papagaios do regime, como ilustram os banquetes, as pautas que incentivam a xenofobia, o linchamento público de opositores políticos (Adalberto Costa e Abel Chivukuvuku), assim como a recente chacina em Cafunfo e a morte do jovem compatriota activista Inocêncio Matos.


Para terminar, surge a informação da consultora Pangea Risk a dar conta de que o nosso ‘santo’, ‘honesto’, ‘idóneo’, e ‘inquestionável’ Presidente, que carrega como bandeira de governação o combate à corrupção, está a ser investigado por procuradores norte-americanos por eventual violação das leis daquele país.


Diz o relatório da Pangea Risk, citado pelo jornal português Expresso, que os procuradores norte-americanos têm estado a compilar durante quase um ano provas de violação das leis e regulamentos dos EUA pelo presidente João Lourenço, a sua família e parceiros de negócio".


Segundo o mesmo documento, além de João Lourenço, estão na mira das autoridades norte-americanas a primeira-dama angolana, Ana Dias Lourenço (accionista da agência de comunicação Orion), o advogado Carlos Feijó, o ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, e o antigo vice-presidente da República, Manuel Vicente.


O relatório da Pangea Risk referido pelo Expresso explica que "a família de João Lourenço está a ser investigada por numerosas violações do FCPA, transacções bancárias ilegais, fraudes bancárias para a compra de imóveis nos Estados Unidos e uma conspiração para defraudar o Departamento de Justiça dos EUA pela família Lourenço".


A julgar por estes casos citados acima e tantos outros, estamos ou não perante um presidente demagogo e hipócrita?

 

 



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