Luanda - Segundo a polícia angolana, o jovem ativista anunciado como morto está a receber tratamento numa unidade sanitária de Luanda. Comandante provincial diz que não usou balas reais nos confrontos com os ativistas.
Fonte: DW
A polícia angolana negou nesta quarta-feira (11), que uma pessoa tenha morrido durante os confrontos em Luanda com jovens que se queriam manifestar, garantindo ter usado apenas meios não letais para obrigar ao cumprimento da lei.
Em declarações aos jornalistas, o comandante provincial de Luanda, Eduardo Cerqueira, disse que o cidadão que foi dado como morto está internado no hospital Américo Boavida e recebeu tratamento hospitalar e esclarece.
"Caiu quando fugia da ação policial no sentido de dispersar as pessoas. Nós estávamos a dispersar em dois sentidos, porque não deviam fazer ajuntamentos e porque estavam a fazer desacatos contra as autoridades públicas, arremessando objetos e cometendo uma série de atos que constituem prevaricação à lei", justificou.
A polícia impediu, no dia em que se celebravam os 45 anos de independência em Angola, uma manifestação proibida pelo Governo Provincial de Luanda, alegando incumprimento de horários, falta de moradas de alguns organizadores e incumprimento das medidas vigentes no decreto presidencial sobre situação de calamidade pública, que impedem ajuntamentos de mais de cinco pessoas na via pública.
Vários detidos
Sem indicar quantos manifestantes foram detidos, Eduardo Cerqueira adiantou que "foram recolhidos vários cidadãos com intuito de afastá-los das áreas onde se estavam a registar os factos", incluindo dois jornalistas que foram levados para a esquadra.
"Foram interpelados, foram conduzidos à esquadra e depois de identificados encaminhados para suas casas", afirmou o responsável, declarando que foi dada ordem "imediatamente" para devolução dos meios (câmaras, máquinas fotográficas e telemóveis), embora seja possível que "algumas formalidades ainda não tenham sido cumpridas.
Cerqueira sublinhou ainda que "queremos cumprir a determinação do Presidente da República que diz que os jornalistas devem exercer a sua atividade, no âmbito da sua liberdade de ação".
O comandante revelou que se registaram também "algumas detenções pontuais": um indivíduo que ateou fogo num posto de abastecimento de combustível, dois que pretendiam pegar fogo a pneus junto de outra bomba, um manifestante com mandado de captura por roubo qualificado, outro por posse ilegal de estupefaciente e outro que danificou o vidro de uma viatura.
Segundo a polícia, os restantes foram libertados e "aconselhados a não voltar a aparecer em manifestações que não reúnam os requisitos, em termos da lei, que se realizarem".
Polícia nega uso de balas reais
Eduardo Cerqueira garantiu que a corporação não usou balas reais, defendendo que: "isso seria um genocídio". Diz que os feridos resultam da carga "aplicada contra quem aplica carga contra a polícia", a fim de "neutralizar os indivíduos".
"A polícia usou meios não letais próprios para esse tipo de eventos. Todos os estalos e barulhos que ouviram são próprios de elementos não letais. É possível que alguns, como é o caso do gás lacrimogéneo, possa causar algum mal-estar a esta ou aquela pessoa", destacou.
Entre a polícia não há registo de feridos, mas há duas pessoas no hospital, admitiu: o que estava dado como morto, mas que "está fora de perigo", e um outro que está a ser assistido, sem confirmar se se trata do ativista Nito Alves.
O comandante da polícia salientou ainda que "não falhou nada" na atuação policial. "O que falhou apenas foi a obstinação, a teimosia de alguns cidadãos em manifestar-se quando não reuniam os requisitos que a lei orienta do ponto de vista do estado de calamidade, não do ponto de vista de manifestação", considerou.
Angola assinalou ontem (quarta-feira) 45 anos da independência do país, sendo um dia de feriado nacional, em que estava prevista a realização de uma manifestação, organizada por um grupo de jovens ativistas, para exigir melhores condições de vida e a marcação de uma data para as primeiras eleições autárquicas.
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