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segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Águas Agitadas no Bengo. Mara Quiosa na Corda Bamba – Admar Jinguma

Caxito - Como acabará a luta entre os de lá e os de cá e os de cá que são de lá? Já vai algum tempo que estalou o verniz entre Mara Quiosa, o seu grupo e membros locais do seu partido e do Governo que se sentem excluídos dos lugares chaves que anteriormente ocupavam, supostamente, em benefício a elementos que a Governadora “importa” de Luanda. Tudo começou em 2018 quando alguns meses depois de Mara Quiosa ter assumido a chefia do Governo do Bengo assumiu também, como é praxe, a chefia do seu partido na província.

Fonte: Club-k.net


Contra todas as expectativas, Mara Quiosa abdicaria do nome de um destacado militante do MPLA na Província, João Manga, indicado por João Miranda, antes da sua saída, para ocupar as funções de Segundo Secretário do MPLA na província, em substituição do jovem deputado Manuel Lopes Dembo “Santos”, que optara por ficar na casa das leis. Em seu lugar Mara Quiosa indicou João Mpilamossi, um destacado empresário local que, até então, geria o perímetro irrigado de Caxito. Levantaram-se vozes de contestação contra o nóvel dinamizador da máquina partidária do MPLA na província, mas sobretudo em solidariedade a João Manga, uma figura mediática entre os militantes do MPLA na província, sob alegações de este último ter sido humilhado, pelo facto de Mara Quiosa não ter ratificado a escolha já anuída pelo respectivo órgão colegial do partido na província. Entretanto, alguns meses depois Manga viria a ser despachado para desempenhar as funções de Administrador do Município do Bula Atumba, até ao momento que escrevemos este texto.


A partir daí começou o divórcio entre o grupo de Mara Quiosa ido de Luanda e os militantes do MPLA e membros do Governo local que, passaram a sentir-se ostracizados em benefício do primeiro. Um nome foi logo encontrado para se referir ao grupo de Mara, “Elenco da Paz”, em alusão ao grupo de kuduro que canta a famosa música arroz com feijão. Segundo se diz nos corredores do governo e à boca pequena, é que ao nível da sede do Governo só há gente estranha vinda de Luanda para “tomar de assalto” todos os lugares na sede do Governo.


Para agravar a situação Mara Quiosa é acusada de ter violado os Estatutos do MPLA, ao fazer ingressar supostamente 19 (dezanove) novos membros do chamado Elenco da Paz no comité provincial, aquando do processo orgânico que visou o alargamento deste órgão, em vésperas da realização do VII Congresso que viu também alargado a composição do seu Comité Central.


Entre outras coisas, Mara Quiosa é também acusada de interferir na gestão dos Gabinetes provinciais, onde tem supostantamente dado ordens para a exoneração de chefes de Departamento e de Secção, sem proposta prévia dos respectivo titulares de cargos, tudo com o fito de acomodar gente da sua confiança ida de Luanda.


Segundo dizem os militantes descontentes, o elenco da paz é cada vez mais numeroso que já atingiu a cifra de mais de uma centena de membros, que ocupam cargos de responsabilidade ao nível da sede do Governo, Departamentos, Secções, Administrações municipais, com destaque para a chefia do município sede, Dande, e os (as) Administradores (a) Adjuntos (as) para área financeira em todos os municípios, que se diz serem todos do grupo ido de Luanda.


O clima tenso que se vive nas hostes do MPLA no Bengo tem provocado ondas de constestação, cujo palco escolhido é o facebook, onde se destaca a página “Bengo em Liberdade”, que já desencadeou um movimento denominado “Mara Quiosa Fora”.

Em Maio último, aquando da sua exoneração do Gabinete provincial de Infrestruturas, funções que desempenha actualmente no Governo Provincial do Bié, Edgar Hilário disse o seguinte:


“... a dinâmica da vida e as pelejas intestinais no seio das organizações marcam o percurso dos profissionais e o meu por enquanto foi interrompido”. Edgar Hilário deixava claro que a sua exoneração estava mais ligada a lutas internas no seio do MPLA e do Governo do Bengo, do que a qualquer outra razão.


Tingão Mateus, membro do comité provincial do MPLA e então Presidente do Conselho Nacional da Juventude escreveu no seu facebook no dia 26 de Novembro:
“... Alguém está beliscar a inteligência social dos povos do Bengo. Bengo presente.”


Do que temos lido e ouvido dá a entender que Mara Quiosa tem relegado os quadros do MPLA residentes no Bengo para lugares subalternos, pelo facto de trazer de Luanda até técnicos de base.


Ao nível da opinião pública, o desempenho de Mara Quiosa nesses seus dois anos de consulado a frente do Governo Bengo tem sido alvo de avaliações diferenciadas. Há quem dê voto de confiança a Governadora, por entender que tem dado mostras de que pode fazer mais do que já fez até agora, caso tenha mais apoios do Governo Central; e está melhor posicionada neste aspecto relativamente ao seu antecessor, João Miranda. Mas há quem entenda que Mara ainda não fez nada que tenha impactado a vida dos cidadãos do Bengo. Todavia, é dentro do seu próprio partido onde se encontram as maiores vozes contestatárias, embora tenham o receio de o fazer abertamente como já nos habituaram, preferindo fazê-lo em surdina ou de forma velada com base em tímidas publicações no facebook.


Nos últimos dias têm se multiplicado as vozes que apontam para exoneração de Mara Quiosa. Há quem diga que a própria já confidenciou ao seu staff que tal venha a acontecer a qualquer momento.


Alguns analistas locais acreditam que a saída de Mara Quiosa provocará novos realinhamentos internos, na velha busca de posições de conforto, diante do futuro ou da futura chefe. Alguns estão a espera que caia na sorte a indicação de alguns nomes locais: Pereira Alfredo, actual Governador do Bié, Tingão Pedro e Manuel Lopes Dembos, ambos deputados do MPLA pelo círculo provincial do Bengo.


Há quem teima, porém, que se for indicado um quadro local, despoletará uma espécie de “caça às bruxas”, com todas as reservas que a expressão merece, que consistirá numa vassourada em tudo que “cheire” à Mara Quiosa, quer no aparelho do Governo, quer no partido, seguido de um realinhamento dos grupos de influência locais, como os famosos “akwa Ndanji (os do Dande); akwa Nambua (os do Nambuangongo), só para citar esses dois, por serem os mais influentes. Curiosamente, os três nomes citados estão distribuídos entre o município do Dande, Nambuangongo e Bula Atumba. A “vassourada” incluiria também a marginalização aos “de cá que são de lá”, referência aos locais que mereceram a escolha de Mara Quiosa, que são tidos por muitos descontentes como alguns dos culpados pela ostracização destes.


Até aos próximos episódios...


* Professor e Sindicalista

 



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